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 CONHECENDO MACEIÓ


 
AUTOR
José Osvaldo Cavalcante

 

HISTÓRIA DA CAPITAL


 

 Centro Antigo cód. A. 6. Foto n° 00003. - Antiga Matriz de Maceió Um pouco mais à frente começou a ser construida em 1850. A Catedral  atual, cuja inauguração foi presidida pelo imperador D. Pedro II, em Dezembro de 1859. Detalhes sobre a construção da atual Catedral na Revista do instituto Histórico de Alagoas ( primeiro volume). ( Praça D. Pedro II).

 
Vista Parcial de Maceió cod. A. 6. Foto n° 00022
Paisagem da Subida da Catedral e ao fundo Jaraguá, 1970.

MACEIÓ

CAPITAL ALAGOANA



DADOS GEOGRÁFICOS

Acessos: BR 316, BR 104 e AL 101
Capital do Estado de Alagoas
Localização: O Município de Maceió está situado na parte leste
                      do Estado de Alagoas, tendo como coordenadas
                      geográficas as seguintes: 9º 40`00”S e 35º44`00”G.
Limites: Ao Norte: com Paripueira e Flexeiras; ao Sul, com Satuba,
               Coqueiro Seco, Santa Luzia do Norte e Marechal Deodoro;
                a Leste, com o Oceano Atlântico; e a Oeste, com Messias,
                Rio Largo e Satuba.
Distância para Brasília (DF): 1.486 km
Distância para Recife (PE): 285 km
Distância para Aracajú (SE): 294 km
Distância para Salvador (BA): 632 km
Distância para Natal (RN): 572 km
Latitude: 09 39 57
Longitude: 35 44 07
Clima: Temperado
Temperatura: Máxima 30°C  e mínima 20°C.
Altitude: 5 metros acima do nível do mar
Área: 510 km2
População: 896.965 habitantes - Fonte: IBGE - 2007
Eleitorado: 503.913 - Fonte: TRE - 2008
Densidade Demográfica: 1.357,64
Prefeito: Cícero Almeida
Capital fundada em: 16/9/1815.
      
         Os núcleos formadores da civilização alagoana (Porto Calvo, Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul e Penedo) já se achavam em plena florescência, e ainda não se fazia qualquer referência à região em que se localiza a nossa cidade.

É certo que pelas nossas praias passaram reinóis e forasteiros, movidos pela cobiça ou fascinados pelas maravilhas da natureza. O nome de Porto do Francês é um claro indício das visitas desses estrangeiros, atraídos pelo comércio do Ibirapitanga, de tinta ruiva e preciosa.

Certo tempo depois do massacre do primeiro Bispo do Brasil, por ocasião do naufrágio da nau Nossa Senhora da Ajuda, dois religiosos da Companhia de Jesus percorreram, a pé, todo o litoral que se estende da Bahia até Olinda. O relato dessa homérica excursão, feita em condições de extrema dificuldade, retrata a desolação e o horror que imperava na região em conseqüência da guerra movida contra os Caetés, condenados à escravidão perpétua, muito mais pela ambição do que pela punição da sacrílega antropofagia. Existem nesse relato diversas referências às tabas e povoados que se multiplicavam pelas praias alagoanas, e que a crueza dos perseguidores deixava deserta. Não se faz, no entanto, nenhuma alusão a qualquer morador no local em que veio a se construir Maceió.

Os holandeses, assíduos em nossos campos, indicam em seus minuciosos relatórios nos mapas de Maregrafe e de Berleus, as pontas de Joçara e de Jaraguá, os rios e lagoas e o canal do Pontal da Barra, mas, igualmente, nada registram com respeito aos habitantes em Maceió.

Centro Antigo cód. A. 6. Foto n° 00079
Palácio do Barrão de Jaragua hoje Bliblioteca Pública eao fundo o Bela Vista Palácio Hotel, e a Residência da Familia Maurício da Rocha onde hoje esta o antigo Banco de Londres, Praça D. Pedro II 1950.

Existe um documento batavo, admirável pelas minudências e pelo orgulho dos conquistadores  Itinerário desde a cidade Maurícia até o Forte Maurício, junto ao Rio São Francisco, com detalhada descrição de toda esta faixa geográfica, também, totalmente omisso quanto ao assunto.

Câmara Cascudo, que pesquisou esses documentos holandeses, observa, nesse ponto: “Nem sinal onde surgiria a linda Maceió”.

Houve, no entanto, quem atentasse para a região notando suas particularidades e deixando uma descrição a seu respeito. Foram os índios que, vivendo em contato permanente com a natureza, eram inimitáveis observadores de seus acidentes.
   Como o tupi é uma língua em que as sílabas são palavras e as palavras condensam frases, puderam os índios legar-nos essa preciosa toponímia que avulta na nomenclatura geográfica do Brasil.
  
Existe um rio que banha parte da nossa Capital. Nasce no Tabuleiro dos Martins, e é formado pelos córregos denominados Pitanga e Pau D'Arco. Aprofunda-se, depois, pelo vale, muitas vezes mencionado nas antigas escrituras de terra como Rêgo da Pitanga, e deságua no Oceano Atlântico, depois de um curso de seis quilômetros. Ao romper do vale, na altura onde atualmente é  o bairro do Poço, não seguia diretamente para o Oceano como acontece hoje, em função de obras de canalização, mas se curvava para a direita indo desaguar na altura do atual Clube Fênix Alagoana.

Foi este último trecho do rio que impressionou os aborígenes. Chamaram-no de Maçai-ó-k, que significa: “o que tapa (ou represa) o alagadiço”. Encontramos, também, segundo as diversas fontes, a grafia Massayó-k, Massaió-k e Macaio-k. O étimo da palavra Maceió é comum na região: Massagueira, “O que foi alagadiço”, “Massapé”, “A superfície do alagado”.

Nessa denominação, depois, modificada para Maceió, dava aos índios uma descrição concisa e vibrátil da topografia da nossa cidade.

Formado, no seu último trecho, onde encontramos a Avenida Duque de Caxias, o alagadiço se estendia desde o Poço, espraiando-se pela antiga Boca de Maceió, pela Lagoa da Água Negra, pela Lagoa Neguinho, pela estrada do Trapiche, até encontrar a Lagoa Norte, ou Mundaú.

O rio perdeu, com o passar do tempo, sua importância e até mesmo o nome. Hoje é apenas o Salgadinho  num diminutivo com que se pretende distingui-lo do Rio Salgadinho ou Reginaldo, alcunha que lhe adveio de Reginaldo Correia de Melo, senhor das terras da Estrada do Poço.

Mas, se o rio perdeu o nome que lhe haviam dado os silvícolas, o engenho, o burgo e a cidade (que se tornaria Capital de Alagoas) se encarregaram de perpetuar o nome dessa evocação do cenário pantanoso e selvagem das suas origens.

Jaraguá Antigo cód: A.6. Foto nº 00012
A Ponte de Embarque e Desembarque de Pessoas, também conhecido como Ponte da Alfandega em 1910.

Após o descobrimento do Brasil, Gaspar de Lemos levou para Portugal diversas amostras dos produtos da nova terra, entre os quais, o Pau-Brasil, muito útil pela tintura que dele se podia extrair.

Na flotilha de Gaspar de Lemos, que partiu de Portugal em 1501, para reconhecer a nova possessão, veio o renomado cosmógrafo Américo Vespúcio. Segundo relata Varnhagen, a expedição vinha dando o nome do santo do dia aos acidentes geográficos que iam encontrando. Assim, surgiram os nomes do Cabo de Santo Agostinho, do Rio São Miguel, do Rio São Francisco, da Baía de Todos os Santos, de Angra dos Reis, e tantos outros.

Não existe certeza sobre o primeiro ponto do território alagoano explorado por essa expedição, mas, diversos historiadores optam por Barra Grande, no atual Município de Maragogi.

A segunda expedição exploratória, comandada por Gonçalo Coelho, seguiu mais para o Sul apenas passando pelos pontos visitados anteriormente.

Os interesses de Portugal, nessa época, voltavam-se mais para a Índia, sem avaliar, convenientemente, as riquezas e o potencial do Brasil, tanto que em 1506 fazia uma espécie de “arrendamento” da nova possessão a Fernando de Noronha e outros, obrigando-se os arrendatários a desbravar trezentas léguas de selvas, sustentar uma fortaleza e remeter, anualmente, seis navios carregados de produtos da terra para o reino.

Na verdade, a descoberta dos lusos era grande demais para ser defendia e resguardada dos interesses econômicos de outras nações.

   A madeira vermelha, que os índios chamavam de ibirapitanga, que significa: “da cor da brasa”, passou a ser conhecida como pau-brasil, e rapidamente se espalhou a notícia de que na nova possessão portuguesa havia grande quantidade dessa madeira.

   Em 1516, D. James Manuel tomou conhecimento que a França vinha buscar muito pau-brasil para vender na Europa, onde era muito procurado para retirada de tintura. Inicialmente, o Monarca Português mandou Embaixadores à França, apelando para a Corte, o Tribunal e o Parlamento. Não obtendo a paralisação do comércio dos franceses com os índios, que trocavam a madeira por quinquilharias, D. Manuel passou a negociar com os corsários, transigindo em direitos.

   Com a morte de D. Manuel, substitui-lhe seu filho, D.João III, diplomata notável e enérgico. Ao chegar ao conhecimento deste que os franceses não só faziam pirataria, mas já estavam fundando colônias por aqui, organizou uma expedição com a finalidade de guarnecer o litoral do Brasil. De fato, Jacques Reffauk, no Maranhão; Duguay-Trouin e Villegaignon, no Rio de Janeiro; o inglês James Lancaster e os espanhóis, em Santa Catarina; e os holandeses na Bahia e em Pernambuco, não respeitavam o domínio português sobre a nova terra, achando-se instalados com postos comerciais mais ou menos efetivos.

   A expedição enviada por Portugal para cobrir essa exploração feita por outros países, ou por corsários independentes, fundou uma feitoria às margens do Igaraçu e apreendeu vários navios carregados de pau-brasil, na altura do Cabo de Santo Agostinho e num porto situado ao sul da Barra das Lagoas. Segundo nossos historiadores, nascia daí, o nome do Porto do Francês  ou Porto dos Franceses, que perdura até os nossos dias. Data, portanto, das primeiras expedições ao Brasil, o registro e o conhecimento do litoral alagoano.

   Como Portugal estava por demais assoberbado com os empreendimentos no Oriente, e diante das dificuldades de combater o contrabando das riquezas  mesmo porque os índios preferiam negociar com os corsários, ao invés, de simplesmente, entregar o pau-brasil para os portugueses, D. João III, verificando a impossibilidade de povoar e defender o vasto território, tomou a decisão de dividi-lo entre fidalgos de sua corte, conferindo-lhes capitanias hereditárias, para que eles as defendessem por sua própria conta.

O Brasil foi dividido em 15 grandes lotes em que beneficiários detinham poderes discricionários, regulados pelos “forais”, que fixavam as atribuições dos colonos e os privilégios da Coroa.

A Duarte Coelho Pereira coube uma dessas capitanias, a de Pernambuco, ou Nova Lusitana, pela Carta Régia de 10 de abril de 1534, estendendo-se do Rio São Francisco, ao sul, até o Maranhão, ao norte, compreendendo  12.000 léguas quadradas, das quais fazia parte todo o território que hoje é o Estado de Alagoas.

E aí começaram  as origens de nosso Estado sob domínio português, até então, a presença mais constante de estrangeiros era de franceses. Antes, porém, da chegada dos europeus ao território alagoano, este era ocupado pelos Potiguares, Tabajaras, Caetés, Abacatiaras, Aconans, Cariris, Coropatis, Moriquitos, Chucurus, Umans, Vouvés, Chocos, Pipianos, Coropotós e outras tribos de menor importância.

Os Potiguares ocupavam a região que se estendia das proximidades de Porto Calvo para o norte, até além de Itamaracá. Os Tabajaras eram vizinhos dos Potiguares; os Caetés estendiam seu território desde as margens do Rio São Francisco até além de Iguarassu. Os abacatiaras ocupavam as ilhas do Rio São Francisco e viviam quase que exclusivamente. da pesca. Os Aconans, os Cariris e os Coropatis ocupavam as regiões próximas do Rio São Francisco, em cujas margens construíam suas tabas. Os Moriquitos também ocupavam as áreas próximas do rio e tinham suas tabas perto do litoral marinho. Os Chucurus, os Vouvés, os Chocos, os Umans, os Pipianos e os Coropotós ocupavam as regiões mais ocidentais do atual Estado de Alagoas e se caracterizavam por serem tribos muito guerreiras.

A primeira entrada, no território do atual Estado de Alagoas, ocorreu logo após o naufrágio da nau Nossa Senhora da Ajuda, em 1556. Os náufragos dirigiram-se a Olinda, entre eles, o primeiro Bispo do Brasil, D. Pero Fernandes Sardinha, o Provedor-Mor Antônio Cardoso de Barros e muitos outros homens e mulheres, perfazendo mais de cem pessoas, quando foram surpreendidos pelos Caetés. Impossibilitados de resistir aos silvícolas, foram aprisionados e chacinados, verificando-se, inclusive, a prática da antropofagia. Desse massacre, apenas se livraram dois índios baianos e um português por falarem a língua tupi. Chegando até Olinda, a notícia da selvageria indignou e assustou as autoridades, gerando uma onda de pânico e revolta e um brado de uníssono de vingança.


Organizou-se, então, a expedição de desforra contra os Caetés, formada por portugueses e Tabajaras, sob o comando de Jerônimo de Albuquerque, que já havia demonstrado sua crueldade, anteriormente, ao mandar amarrar índios prisioneiros na boca dos canhões e dispará-los à vista dos demais para que os vissem voar em pedaços.

A expedição durou cinco longos anos, varreu todas as tabas dos Caetés compreendidas entre o Rio São Francisco e o Cabo de Santo Agostinho, matando, queimando e destruindo. Alguns poucos representantes (da outrora enorme nação Caeté) batidos em todos os seus redutos, refugiaram-se no território que hoje forma o Estado da Paraíba. Ainda assim, um Édito Real condenou todos os Caetés sobreviventes, à escravidão perpétua, caso fossem aprisionados.

Em 1554, com a morte de Duarte Coelho Pereira, a administração da Capitania passou para D. Brites de Albuquerque, viúva do donatário, e sua sucessora hereditária.A conquista do território alagoano começa a esboçar-se sob o comando deste donatário, que orientou sua administração para a interiorização do domínio, organizando duas bandeiras, uma para o sul e outra para o norte de Olinda.

O próprio Duarte Coelho de Albuquerque, auxiliado por seu irmão Jorge Coelho de Albuquerque, assumiu a direção da bandeira que rumou para o Sul, explorando o litoral e penetrando em alguns cursos fluviais. Subindo o Rio São Francisco a sete léguas da Foz, na posição de 10º e 13' de latitude sul e 6º e 31' de longitude este, em relação ao Rio de Janeiro, num penedo que encontrou na margem esquerda do rio, fundou uma feitoria para a vigilância do gentio dando origem à atual Cidade de Penedo.

A outra bandeira, capitaneada por Cristovam Lins, fidalgo de nobre linhagem, explorou a costa, da foz do Camaragibe ao Cabo de Santo Agostinho, batendo os Potiguares e tomando-lhes as terras que dominavam.

As grandes extensões de terras que compunham as capitanias e a dificuldade de povoá-las, as exigências sociais e materiais das populações já estabelecidas e a conveniência da exploração sistemática do solo, propício a todas as culturas, aconselhavam a divisão aos colonos mais notáveis  os chamados “homens de qualidades”, seguindo a política adotada por D.João III com respeito ao Brasil.

Na parte ocupada, atualmente, pelo Estado de Alagoas, foi procedida a seguinte divisão:

a) para Cristóvam Lins foram doadas as terras por ele conquistadas aos Potiguaras, que se estendiam da embocadura do Rio Manguaba ao Cabo de Santo Agostinho. Ao estabelecer-se, porém, a divisão do território em comarcas, em função do desenvolvimento social e econômico da região, somente uma parte dessa sesmaria passou a integrar o território alagoano.

b) para Antonio de Barros Pimentel, tronco de importante família que se arraigou e propagou em Alagoas, coube uma sesmaria que, fazendo frente para o mar, estendia-se da foz do Manguaba até a foz do Santo Antônio de Meirim. Esta grande sesmaria, conhecida como Santo Antônio dos Quatro Rios  era banhada pelos rios: Manguaba, Tatuamunha, Camaragibe e Santo Antônio, deu início à exploração de parte do atual território de Maceió.

As terras férteis dessa sesmaria, aliadas a tratos culturais apropriados, fizeram surgir vários povoados ao redor dos engenhos de açúcar, base da economia e da riqueza da época. Os minuciosos relatórios dos holandeses, elaborados na época, referem-se à ermida de Nossa Senhora do Bom Despacho, às povoações do Espírito Santo, Bom Jesus, São João e Nossa Senhora do Guadalupe.

Entre Camaragibe e Santo Antônio ficavam as propriedades denominadas Tapera de Angola, São Sebastião, Nossa Senhora da Penha de França e Água Fria. Citavam, ainda, as propriedades de Cristóvam Dias Delgado, Rodrigues de Barros Pimentel e Cristovam Botelho.

Para efeito de administração civil, tudo estava subordinado a Porto Calvo.

c) para Miguel Gonçalves Vieira, provedor da Fazenda Real, foram destinadas duas doações de terra, ambas vastíssimas: a primeira, por Duarte Coelho Albuquerque, com cinco léguas de litoral e oito para o interior; a segunda, doada pelo quarto Donatário de Pernambuco, Marquês de Basto e Conde de Pernambuco, com cinco léguas de litoral e dez para o interior. Pelo litoral, a sesmaria começava em Santo Antônio do Meirim e terminavam na enseada de Pajuçara. Pelos fundos, englobava todas as lagoas do Norte, ou Mundaú.

Dessa sesmaria, foi dada, em 13 de abril de 1610, uma légua em quadra às margens do Rio Mundaú, a Antônio Martins Ribeiro, que, cumprindo as condições da doação, levando um engenho à beira da Lagoa do Norte, ou Mundaú, fundando a povoação de Santa Luzia de Syracusa, atual cidade de Santa Luzia do Norte;

d) para Diogo Soares da Cunha foi concedida uma sesmaria de cinco léguas de litoral, de Pajuçara até o Porto do Francês, com sete léguas para o interior, segundo fora datado de 05 de agosto de 1591. Em 1596, chegando a seus domínios, o donatário lançou os fundamentos da povoação que recebeu o nome de Magdalena, depois Santa Madalena da Lagoa do Sul, voltando depois, para Portugal e deixando na direção de seus negócios, o Capitão-mor Henrique de Carvalho.

e) para Antonio de Moura Castro, foram doadas as terras que, pelo litoral, vão do Porto do Francês ao picão, em Coruripe. Das atividades dessa sesmaria, surgiram as Vilas de Poxim e de Coruripe;

f) para Belchior Álvares Camello, primeiro Alcaide-Mor de Penedo, foi concebida a sesmaria que ocupava as terras restantes do atual território de Alagoas, do picão à foz do Rio São Francisco;


g) para D. Felippa de Moura e seus genros Antônio Ribeiro de Lacerda e Cosme Dias da Fonseca, foram doadas, em 1612, quatro léguas de terras, a oeste do Rio São Francisco e ao norte da foz do Pianguy, além das terras marginais do Rio São Miguel até o engenho desse nome.

Em 1611, Henrique de Carvalho, preposto e procurador de Diogo Soares da Cunha, doou a Manoel Antônio Duro, próspero e rico morador de Santa Maria Madalena da lagoa do Sul, uma sesmaria, que, pela costa, começava no final da Pajuçara, indo até a barra da Lagoa Mundaú, e se estendeu para o interior até atingir o Rio Mundaú.

Pela escritura de doação, passada em Olinda, no dia 25 de novembro de 1611, essa sesmaria media 800 braças de litoral, construída de tijolos e telhas pelo sesmeiro Manoel Antônio Duro, na Pajuçara, respeitando os limites da sesmaria doada a Miguel Gonçalves Vieira. Por essa sesmaria não seria cobrado nenhum dízimo, apenas deveria o sesmeiro construir um sobrado, às margens do Rio Sumaúma, para Alcaide-Mor de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, Diogo Soares da Cunha, no prazo de um ano.

Manoel Antônio Duro, provavelmente, não tomou posse da sesmaria. A casa de tijolos e telhas se chegou a ser construída, o que é pouco provável, teve duração efêmera, pois os documentos holandeses, de 1633, que descrevem minuciosamente o litoral, não fazem menção a nenhuma casa na enseada de Pajuçara.

Destaca-se, desta forma, que Manoel Antônio Duro tenha sido responsável pela formação de núcleo populacional que viria a dar origem a nossa cidade.

Mesmo sem ter o donatário tomado posse da sesmaria, conforme tudo leva a crer, essas terras continuaram constando como ocupadas, não tendo sido doadas a outros interessados, por um longo período de tempo.

Em 1611, as terras que atualmente compõem o Município de Maceió, estavam distribuídas da seguinte forma:

1)        Parte da sesmaria doada a Antônio de Barros Pimentel;
2)        Uma das sesmarias doadas a Miguel Gonçalves Vieira;
3)        Sesmaria doada a Manoel Antonio Duro, ocupava ou não por este.

Em 16 de setembro de 1699, o Governador e Capitão-Geral de Pernambuco, D. Fernando Martins Mascarenhas de Lencastro, assinava a seguinte carta de doação:

CARTA DE DOAÇÃO E SESMARIA DE APOLINÁRIO FERNANDES PADILHA E OUTROS.

“D. Fernando Martins Mascarenhas de Lencastro, do Conselho de S. M. G or e Capitão General de Pernambuco e mais Capitanias anexas e etc. Faço saber, aos que carta de doação e sesmaria virem que a mim se me representou a petição cujo teor é o seguinte: Sr. Diz Apolinário Fernandes Padilha, morador na Capital das Alagoas e aí Capitão em uma das Companhias de Infantaria da Ordenança e o Capitão Gonçalo de Serqueira, também morador na dita Capitania, que eles há anos estão à custa de suas fazendas, servindo a SM. Que Ds. Gs., na conquista dos negros levantados dos Palmares ajudando a restaurar as terras ocupadas por eles, estando por esta causa muito desertas e desaproveitadas, assim no termo daquela vila, como na do Porto Calvo; achando-se os suplicantes em algumas ocasiões demais considerações que se empreenderam de uma outra vila, e como não tem terras capazes em que possam com suas fábricas e famílias, conservarem-se querem pois para povoarem e lavrar, de sesmaria, e fazerem engenho de fabricar açúcar e mais fazendas de canas duas léguas de terras em quadro, uma para cada um, começando donde acabam as terras donde antigamente engenho de Cristovam Dias chamado Gitihiba, e a largura por uma e outra banda do dito rio, ficando em meio por pião cujas terras estão devolutas por se não haverem dado a pessoa alguma pelas referidas causas e ficam próximas de povoado, e os suplicantes aceitam todas as condições com a pensão que se lhe for posta na forma das que mais se dão. Pedem a V.Sa seja servido em consideração do que alegam dar-lhes de sesmaria as ditas duas léguas de terra em quadro no lugar que declaram conforme as confrontações que referem ERM. Informe o provedor real da fazenda, ouvindo o Procurador da Coroa. Recife 12 de setembro de 1699.Rubrica haja vista o Procurador da Coroa. Moraes. Devem os suplicantes apresentar certidão de registro da Secretaria, pela qual conste se lhes foi feita alguma data para eu poder responder conforme a última ordem de S,.M satisfeito direi o que tiver. RE 15 de abril de 1699. Pereira. Visto constar para certidão da Secretaria, não lhe ser feita data alguma, não tenho dúvidas a que se conceda aos suplicantes o que pedem sendo a data na forma da Ord. L. 4° título 43, exato em foro, que pagarão em cada ano por léguas, conforme assento que se tomou em junta por especial ordem de S. M. que Ds . Gs . Recife, 18 de setembro de 1699 Pereira. Conformando-lhe com a resposta do Procurador da Coroa não acho inconveniente para que na forma dela se passe aos suplicantes à carta de sesmaria que pedem sem embargo de tudo V. Sa mandará o que for servido Recife, 18 de abril de 1699 Ignácio de Moraes Sarmento, e havendo outrossim, respeito ao que S. M., que Deus guarde me encomenda no capítulo 15 do Regimento deste Governo. Hei por bem lhe fazer mercê aos suplicantes, acima nomeados como pela presente sesmaria em nome de SM. Que Deus guarde e dos mesmos lugares, partes testadas que confrontam em sua petição duas léguas de terra em quadro na forma da ordem do dito grupo pagando de foro por cada légua quatro mil réis aos quais povoarão por termo de cinco anos, aliás, se darão por devolutas, e as possuirão e gozarão os ditos suplicantes eles e seus herdeiros não prejudicando a terceiro com todas as suas águas, campos, matas, testadas, logradouros e mais úteis que nelas se acharem, e serão obrigados a darem pelas ditas terras, caminhos livres ao conselho para fontes, pontes, ou pedreiras e a requerer a confirmação desta data em termo de dois anos, pelo que ordeno aos Ministros da Fazenda R.1 e Justiça destas Capitanias a quem o conhecimento desta carta pertencer-lhes farão dar a posse real, efetiva atual na forma costumada e debaixo das cláusulas referidas e das mais da Ord. Título das sesmarias que para firmeza de tudo lhe mandei passar a presente por mim assinada e selada com o sinete das minhas armas, a qual se registrará nos livros da Secretaria deste Governo, nos da Fazendo Real e nos do Foral Real de que é Escrivão Licenciado Manoel da Cunha, e sem esta precisa circunstância não terá vigor ou validade alguma a presente Carta de Sesmaria. Dada neste recife de Pernambuco em os dezoito dias do mês de setembro Lizardo Ribeiro Monção a fez, ano de mil seiscentos e noventa e nove. O Secretário  Antonio Barbosa de Lima a fez escrever. D. Fernando Martins Mascarenhas de Lencastro.”

Portanto, é certo que o Rio Gitihiba, citado na carta de doação e sesmaria  conforme requerimento dos interessados é o atual Rio Gitituba, que tem sua nascente na Serra do Ouro, divisa dos Municípios de Murici e Messias, e atravessa o território do Município de Messias na direção oeste/leste e vai encontrar o Rio Santo Antônio Grande ou Paripueira, atual Sauassui (não confundir com o Rio Jitituba, afluente do Rio Santo Antônio).

Entretanto, os capitães Apolinário Fernandes Padilha e Gonçalo de Serqueira não tomaram posse da sesmaria que lhes foi doada, localizada a oeste do atual Município de Maceió, entre as Vilas de Santa Maria Madalena e Porto Calvo, instalando-se na sesmaria que, em 1611, fora doada a Manoel Antônio Duro. Nessa época, a área já possuía a pequena capela, sob o oráculo de São Gonçalo do Amarante, e poucas casas de taipa a sua volta.

É provável que o Engenho Massayó tenha sido de propriedade de Apolinário Fernandes Padilha e que tenha passado por considerável fase de desenvolvimento. Em razão disso, em 1716, o proprietário pagou 64.000 réis por conta dos foros da sesmaria ao almoxarife Manoel Lopes de Santiago, conforme observação colocada à margem de carta de doação da sesmaria, que atestava: “Apolinário Fernandes Padilha pagou por conta dos foros da sesmaria confronte 64.000 réis ao almoxarife Manoel Lopes Santiago, a quem se encarregarão de dissipar dúvida e que pus esta verba em 04 de junho de 1716  fl. Receita.”

No ano de 1708, o Capitão Apolinário Fernandes Padilha, provavelmente, para regularizar as terras ocupadas indevidamente, fazia transladar para o livro de notas do tabelião Barnabé de Couto Lemos, da cidade de Alagoas, a escritura da sesmaria de Manoel Antônio Duro, como se fora seu sucessor, ou melhor, como se desta se tratasse à carta de sesmaria que recebera da Coroa.

   Podemos situar  essa troca da seguinte forma:

a) em 1699, os capitães Apolinário Fernandes Padilha e Gonçalo de Serqueira receberam, por doação, uma sesmaria de duas léguas em quatro, localizada nas terras que pertenciam ao Engenho Getituba, de propriedade de Cristóvam Dias Delgado, entre as Vilas de Alagoas e Porto Calvo;

b) em 1708, precisamente o mês de julho, Apolinário Fernandes Padilha, faz transladar para o livro de notas do Barnabé de Couto Lemos, a escritura da doação da sesmaria como se fora aquela anteriormente doada a Manoel Antônio Duro, dela se assenhorando;

c) em 04 de junho de 1716, Apolinário Fernandes Padilha pagou, por conta dos foros da sesmaria, a importância de 64.000 réis, referente a 16 anos de foros. Não há registro de pagamento em nome de Gonçalo de Serqueira, que, inexplicavelmente, desaparece dos registros históricos a partir de 1699.

Em 1762, Apolinário Fernandes Padilha e sua mulher D. Beatriz Ferreira,  movem um processo judicial reivindicando o Sítio do Poço. Como não encontramos nenhum documento de compra, doação ou herança que desse direito de posse ou propriedade do Sítio do Poço a Antônio Fernandes Teixeira e sua mulher, e como estes foram vencedores da contenda judicial, podemos deduzir que o referido sítio estava localizado na parte da sesmaria pertencente ao Capitão Gonçalo Serqueira, e que eles eram seus descendentes ou herdeiros.

Em 25 de abril de 1787, era lavrado, pelo tabelião Francisco José de Andrade, uma escritura de doação dos bens pertencentes ao Padre Antônio Ferreira da Costa, em favor de Bento Ferreira Guimarães, João Ferreira da Costa e Rita da Boa Hora, afilhados do Padre.

Na relação desses bens constavam: “Um crioulinho de nome Benedito; uma crioulinha de nome Nicácia; um crioulinho de nome Antônio; casas de telhas; uma capelinha; o Sítio Massayó, com todos os seus acessórios”. Não se fazia, porém, nenhuma alusão ao Engenho Massayó, com todos os seus acessórios.

Desse primitivo engenho, encontram-se vestígios em 1850, mas o nome de seu fundador (possivelmente o primeiro morador de Maceió) permanece desconhecido.

É possível, ainda, que alguém certamente, de Santa Luzia do Norte, desgarrando-se daquele burgo, com escravos, gado e outros haveres, teria levantado a primitiva fábrica de açúcar. Referindo-se ao assunto, assim se manifesta Craveiro Costa: “uma verdade, porém, é inconteste. A célula mater do povoado foi o engenho com sua ermida de São Gonçalo, que existiram na atual Praça D. Pedro II. Aí vinha morrer os longos caminhos que serviram à fábrica  o que demandava a Lagoa do Norte e o Vale do Mundaú e o que, marginando o litoral, conduzia à capital da capitania, por Porto Calvo e povoados circunvizinhos, que dela se iam emancipando”.

O engenho foi o ponto de irradiação para o núcleo que se formou pouco a pouco.

Nos fins do século XVIII, Maceió era apenas um pequeno povoado, conforme o depoimento do presbítero Cipriano Lopes de Arroxelas Galvão, natural de Pernambuco, que aqui chegou em 1794: “Maceió era pequenina povoação, habitada de alguns vendilhões e pescadores, na qual o maior comércio era conduzir madeiras para as praças, no que se ocupavam as embarcações que ali vinham, e, também, com algumas sacas e caixas de alguns engenhos próximos”.

Talvez não existissem, ainda, ruas propriamente ditas, mas vários lugares, que hoje são bairros da capital, já eram bem conhecidos: Jaraguá, Poço, Bebedouro, Trapiche da Barra e Flexal.

Quanto à capela, que foi contemporânea do engenho, tinha a princípio como orago São Gonçalo do Amarante, mas, em documentos de 1762, já era citada sob a invocação de Nossa Senhora dos Prazeres.

Não resta dúvidas de que o pequeno Porto de Jaraguá forçou o progresso de Maceió, pois era de passagem obrigatória. Os carros-de-boi com carregamentos de açúcar, algodão, madeira e cereais, procedente do interior, abriram as estradas que cortavam a localidade, propiciando o seu desenvolvimento.

Esses produtos eram comprados diretamente pelo comércio do povoado, que os revendia aos veleiros que vinham ao Porto de Jaraguá de quando em quando, e destinavam a Salvador e Recife.

        Outro fator importante, que contribuiu para o crescimento do povoado, foi sua ligação com as duas principais vilas da época Porto Calvo e Alagoas.

Assim, o antigo Sítio Maceió perdia, aos poucos, sua fisionomia rural, para transformar-se em povoado próspero, tomando aspecto de núcleo urbano. E, ao findar o período colonial, a povoação de Maceió já era um pequeno centro comercial, servindo a uma vasta zona agrícola, que se desenvolvia pelos vales do Mundaú e Paraíba.


Em 05 de dezembro de 1815, por Alvará Régio do Príncipe Regente, D. João a povoação de Maceió foi elevada à categoria de vila, sendo desmembrada da antiga Vila de Alagoas. Mas, a instalação oficial só teria lugar quando estivessem construídos o Pelourinho, a Cadeia, a Casa da Câmara e mais oficinas necessárias, cujo ônus o Príncipe entregara à própria população.

A comunidade se cotizou para cumprir as exigências: Antônio Firmiano de Macedo Braga se incubiu da construção do Pelourinho; a casa que serviria de cadeia foi doada por José Elias; o sobrado do pátio da Capela  sobrado este demolido, em 1938, para a construção do Edifício do Instituto dos Funcionários Públicos  para o funcionamento da Câmara.

Devidamente preparada, instalou-se a vila no dia 29 de dezembro de 1816, em solenidade presidida pelo Ouvidor-Geral, Antônio Ferreira Batalha, realizando-se, no dia seguinte, o pleito para a composição da primeira Câmara, empossando os eleitos 1º de janeiro de 1817.

Quando, em 1817, Alagoas se erigiu em capitania independente, Maceió estava em pleno desenvolvimento urbano, que seguia os arruados formados pelo trânsito dos carros-de-boi no intercâmbio comercial.

Em 27 de dezembro de 1818, a população da Vila de Maceió, assistia à chegada do primeiro governador de Alagoas, Sebastião Francisco de Melo e Povos. Invocando as vantagens de sua localização geográfica e de ancoradouro, os moradores da Vila de Maceió insistiram Melo e Póvoas a estabelecer aí, a capital há mais de 100 anos, optou por instalar a sede do governo. Após demorar quase um mês em Maceió, Melo e Póvoas seguiu para Vila de Nossa Senhora da Conceição, em presença da câmara, de autoridades locais, do clero, nobreza e do povo, tomou posse no governo da Capitania de Alagoas.

Após sua posse, o governador demorou apenas oito dias na Vila de Alagoas, retornando a Maceió, onde se instalou definitivamente, fixando residência no sobrado que pertenceu ao português Francisco José da Graça, na esquina da Rua do Comércio com a antiga Rua do Livramento  atual Senador Mendonça. Justificou sua decisão com a necessidade de melhor acompanhar as obras de fortificação e de defesa militar do porto.

Na administração do primeiro governador de Alagoas, foram realizados vários melhoramentos em Maceió. Criou-se a Alfândega, instalou-se a Junta de Administração e Arrecadação da Real Fazenda, a Inspeção de açúcar e Algodão, e construiu-se o Quartel Militar.

A instalação da Junta de Administração e Arrecadação da Real Fazenda em Maceió agravou a desavença entre as Vilas de Maceió e de Alagoas.

Em 05 de julho de 1819, foi criada a  freguesia de Maceió, cuja instalação ocorreu em 08 de janeiro de 1821.

O governador Melo e Póvoas permanecia residindo em Maceió, o que não agradava aos moradores de Alagoas. Em 1821, a Vila de Alagoas foi oficialmente declarada metrópole, ou cabeça da Capitania, sendo enviado ao governador representação dos seus moradores no sentido de que para lá se transferisse, para a instalação definitiva do governo provincial, o que somente veio a ocorrer com a proclamação da Constituição das cortes portuguesas, quando Melo e Póvoas finalmente instalou, ali, a 1º Junta de governo, composta de nove membros. Melo e Póvoas deixou o governo da província em janeiro de 1922.

O ano de 1821 tinha sido de grandes agitações políticas em prol da independência e, na província de alagoas, os patriotas estabeleciam a diferenciação entre brasileiros e portugueses, o que viria a causar sérios distúrbios.

Uma nova junta de governo, que havia sido eleita e empossada, começou a desobedecer, ostensivamente, a D. Pedro, que fora aclamado Defensor e Protetor perpétuo do Brasil. A junta só reconhecia o poder das Cortes de Lisboa.

Jerônimo de Albuquerque Maranhão, rico proprietário em Maceió, reuniu e armou mais de 400 homens e, com elementos de São Miguel e Porto de Pedras, invadiu a capital e excluiu da junta dois de seus integrantes. Fez, solenemente, a aclamação do Príncipe D. Pedro, auxiliado pelo Major Comandante da Artilharia, José Eduardo Pereira Colaço Amado, cidadão português, considerado grande amigo do Brasil. A junta demitiu todos os “pés-de-chumbo”, alcunha pela qual eram chamados os portugueses, civis e militares, e despachou-os de volta para Portugal. Somente Colaço Amado escapou ao expurgo. Enviaram, depois, um emissário ao Rio de janeiro, a fim de expressar a D. Pedro os sentimentos de fidelidade da Capitania.

Alagoas foi, assim, a primeira província que se insurgiu, ostensivamente, contra as cortes de Lisboa, constituindo um governo essencialmente brasileiro, e depondo de suas funções públicas dezenas de portugueses.


Com a abdicação de D. Pedro I em favor de seu filho menor, D.Pedro II, o povo saiu às ruas dando vivas. Mas, insuflados por alguns elementos, a multidão, à meia-noite, atacou de surpresa o Quartel do 4º Corpo de Artilharia Montada, encaminhando uma representação, assinada por 49 cidadãos brasileiros, residentes em Maceió, com várias exigências contra os portugueses.

Enquanto os brasileiros festejavam, os portugueses se refugiavam em suas casas, nas igrejas e até nas matas temendo excessos. O comércio, quase totalmente de propriedade de lusitanos, fechou. Os portugueses passaram, então, dias trágicos em Maceió, até que o veleiro que, conforme determinação do Conselho deveria levá-los embora, chegou ao porto. Muitos, fugindo de suas residências, embarcaram sob insultos e impropérios da população.

Em 1833, o termo de Maceió foi elevado à categoria de Comarca. Em 1839, sendo presidente da Província, Agostinho da Silva Neves, o governo geral determinou a mudança da tesouraria para Maceió, o que inflamou os ânimos novamente. O Tribunal do Tesouro Público e Nacional, em ofício expedido em 12 de outubro daquele ano, autorizou a mudança, mas Silva Neves não conseguiu executar a medida, diante da revolta da Câmara Municipal e dos moradores de Alagoas que se uniram para impedir a saída do cofre.

Na rebelião que se seguiu, Agostinho da Silva Neves foi preso no Palácio e obrigado a renunciar ao poder, sendo substituído por José Tavares Bastos.

João Vieira Lins Cansanção de Sinimbu  Visconde de Sinimbu, 1º vice-presidente da Província, ao tomar conhecimento do que se passara em Alagoas, assumiu a Presidência, instalando o governo, interinamente, em Maceió. Administrador enérgico, Sinimbu solicitou reforçou de outras províncias para abafar a revolta e, com o apoio de tropas enviadas da Bahia e de Pernambuco, reconduziu Agostinho Neves ao poder, em 14 de novembro de 1839, sendo transferido o cofre para Maceió.

Em 09 de dezembro de 1839, Maceió foi elevada à categoria de cidade e sede do governo provincial, sendo inaugurada a nova Capital, em 16 de dezembro de 1839, pelo presidente da Província, Agostinho da Silva Neves, sacramentado, definitivamente, a liderança econômica, política e administrativa que já possuía, de fato, há muito tempo.

Uma planta levantada em 1820, por José da Silva Pinto, a atualizada em 1841, por Carlos Mornay, existente no Instituto Histórico Brasileiro, nos dá uma idéia precisa de como era a Capital de Alagoas nesse período, na eminente história de Craveiro Costa:

“A cidade começou a povoar-se pelo sopé da montanha, que lhe fica a cavaleiro, o qual se estendia da igreja de Nossa Senhora dos Prazeres até muito além da Rua Nova, a atual, que já tinha esse nome em 1817. A falda do monte acompanhava as tortuosidades do Brejo do Olho D'Água, também chamado Lagoa de Manoel Fernandes e ainda Lagoa D'Água Negra, quase toda extinta. Entre a Lagoa e o Riacho de Maceió ficava extensa área quase aberta. Meia dúzia de casebre cobertos de palhas e uma estiva sobre a lagoa estabeleciam certa ligação entre essa área despovoada e o centro da vila. Era a Boca de Maceió todo esse deserto paludoso. Era o brejo, o mangue, o pântano, que a expansão urbana conquistou e saneou, e estende-se da Praça Sinimbu a Rua Pontes de Miranda e vai até a Enfermaria Militar e ruas adjacentes. O nome, mais tarde, parece ter ficado circunscrito a Rua Barão de Anadia e imediações, por onde, ainda em 1840, quem vinha de Jaraguá se dirigia, atravessava riacho em jangada, mediante o pagamento de 40 réis. A jangada foi substituída por uma pinguela e esta por uma ponte de madeira, mais ou menos onde Melo e Povoas levantou o forte de São João, em 1820. Por essa ponte passou o trem de ferro que fazia o serviço de cargas e passageiros, de Jaraguá a Maceió e de Maceió ao Trapiche da Barra e mais tarde, por ela passaram os primeiros bondes de tração animal. Atravessada a estiva, entrava-se na Rua da Estada do Poço (Pontes de Miranda) com poucas casas, predominando as cobertas de palhas. Quatro ladeiras ligavam a estrada do Poço ao centro do povoado  a da Rua Nova ainda hoje com vestígios bem pronunciados; a da Rua do Comércio, que José Bento Júnior melhorou e embelezou; a do Calabouço (Pinto Martins) e da Igreja Catedral. Por estas duas últimas ladeiras entrava-se no Largo do Pelourinho, vasto, com sua casaria acaçapada, em geral habitações familiares. Apenas um sobrado no largo, o de José Elias Pereira, por ele posto à disposição do governo para servir de Casa da Câmara. Bem diante dele, o Pelourinho. Das casas que ficavam à direita e à esquerda do sobrado, Melo e Povoas ocupou algumas. Aí funcionaram o Trem Real, o Armazém do Almoxarifado e a Casa da Junta, a esquina, esta, da Rua do Rosário, no local da Delegacia Fiscal. Defronte, no terreno hoje ocupado pelo Calabouço e da Igreja, algumas casas se notam. Uma delas era a cadeia, doação de José Elias Pereira. Em outras, o Governador da Capitania instalou o Calabouço, a Guarda da Cadeia e o Hospital. Aí, quando toda essa velharia colonial veio abaixo, em 1850, pela picareta reformadora de José Bento, sênior, foi encontrada a fornalha do engenho inicial do povoado, de que falava a tradição popular. A antiga Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres ficava no alto, no meio da falda do monte. Dominando o largo desgracioso, no local em que está agora a Catedral. De um lado e do outro da igrejinha do Padre Antônio Ferreira Costa, algumas casas. Acima da igreja, no planalto, a Casa da Pólvora e a Semáfora.
A planta menciona as seguintes ruas: Comércio, com o mesmo traçado e desenvolvimento da atual. Era a via pública principal da vila, tortuosa e longa, conversando as curvas do caminho aberto para carros de bois que vinham do interior para o povoado. Quase toda construída em extensão, da Rua da Ladeira à Cambona do Machado. No vértice do ângulo, que tem um lado para a Rua do Livramento e outro para a mesma do Comércio, o Sobrado de Francisco José da Graça, que serviu de Palácio do governo desde Melo e Póvoas até Manuel Felizardo, demolido em 1912. Rua da Ladeira, que é a atual Barão de Anadia, compreendendo toda a área onde está o sobrado que serviu de Palácio do Governo até depois da República. Rua da Boa Vista paralela à do Comércio. Cento e tantos anos depois, já nada existindo do seu aspecto primitivo, o povo conservou-lhe o nome. O começo, uma simples derivação da estrada principal e logo as habitações foram surgindo, tornando-se em breve a rua elegante do tempo. Rua do Rosário, nome provindo da capela que aí existiu, levantada e mantida por escravos, e que depois se transformou no belo templo dos nossos dias. Começava no Largo do Pelourinho e , em 1817, terminava precisamente na capela. Melo e Povoas delineou. Rua da Rosa, é a nossa Rua do Livramento, principiava na Rua do Comércio e terminava na da Cotinguiba. Já em 1817 existia a Capela de Nossa Senhora do Livramento, coberta de palhas, e é o lindo templo atual. Rua da Igreja era um lado do Largo do Pelourinho, que se prolongava em direção à Rua do Comércio. Rua do Alecrim não é a que hoje tem este nome popular. A planta a localiza na posição exata da nossa Rua 1º de Março. Póvoas prolongou o rumo do canal que dá comunicação com a Lagoa do Norte, cuja abertura teve começo em 1840.  Rua do Ferreiro, que, segundo a planta deve ser a atual Melo Morais. Rua da Cotinguiba, meia dúzia de casa, rumando à Lagoa traçou aí uma praça, a que, atualmente, tem o nome do Proclamador da República. Travessa da Boa Vista, é a nossa bela Rua Augusta; Travessa do Rosário é a Rua Domingos Moeda; Beco do Padre Francisco, que por muito tempo também se chamou das Pedras, e é, hoje um prolongamento da Rua Augusta. Havia a estrada do Trapiche da Barra, que, pela Lagoa Manguaba, punha a vila em comunicação com a velha Alagoas”.

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2 comentários:

  1. Olá José Osvaldo Cavalcante, você saberia me informar onde posso encontrar mais detalhes sobre a família do Coronel Apolinário? como por exemplo o mesmo tinha filhos? ele era natural de onde?

    Eduardo Padilha

    Abraços

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  2. Este José Osvaldo Cavalcante, é um picareta, copia e cola os texto da internet e diz que é o autor

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